"SRY NOT SORRY" baseado no gene SRY (do inglês Sex-determining Region Y) que é a região do cromossoma Y que determina o desenvolvimento dos genitais masculinos nos mamíferos terrestres (marsupiais e placentários), e da expressão "Sorry, but not sorry" (outra vez do inglês: "Lamento, mas não lamento") provida de sarcasmo num pedido de desculpas pouco sincero ou numa situação na qual não podemos assumir qualquer culpa pois não existe maldade ou sequer poder de decisão na acção pela qual pedimos perdão. Trata-se de uma série de esculturas inspiradas nos órgãos sexuais masculinos, representando uma panóplia de possíveis falos estilizados a meio caminho entre um pénis futurista e um dildo disfuncional. São seres autónomos do resto da anatomia humana. Têm mamilos, caras e orifícios, têm alma, ideias e sistema respiratório. Parecem bonecos, coelhos e cactos, parecem sex toys. São bege, salmão e cor-de-rosa, uns mais claros que outros, alguns são dourados.
Poríferos Preciosos
“Poríferos Preciosos” é um conjunto de cerâmicas que são a representação dos poríferos recolhidos entre o oceano de amoníaco em Tritão, os vários mares subterrâneos de Ganímedes, Encélado, Titã e Mimas, um possível rio de nitrogénio em Plutão, e os lagos sólidos de Ceres, Calisto e Europa. Elas são a tentativa concretizada de dar corpo à mistura entre os poríferos que por aqui conhecemos e aquilo que eu imagino quando penso num mar gasoso na outra ponta do sistema solar. Fazem a ponte entre as influências formais que colho nos campos de corais e o luxo que é poder fantasiar - sem medo - acerca do (quase) desconhecido. Por falar em luxo, estes poríferos não são feitos de pedras preciosas e nada do que neles reluz é ouro, a sua preciosidade reside-lhe nas entranhas. Como nos meninos mais gentis, onde o interior conta acima de tudo, são os seus corações que melhor deverão ser preservados. Todos estes animais que parecem calhaus – nem sempre providos de olhos - carregam em si os meus sentimentos mais profundos, ainda que por vezes relativamente superficiais, dependendo da melodia de cada dia. As palavras inscritas nos seus interiores surgem com o intuito de potenciar um fascínio de outra natureza para além do possível fascínio estético. Condicionando a sua visibilidade, estas podem muito facilmente passar despercebidas. Tudo isto ganha um sentido ainda mais profundo quando se trata de uma peça cujo interior é totalmente inacessível ao olhar e onde estas inscrições acabam por estar presentes sem propriamente existirem, uma vez que nunca se deixam revelar. Creio profundamente na relação intimista que este jogo especulativo - acerca daquilo que poderá ou não conter uma determinada peça - estabelece entre o espectador e a peça em questão. Alimento essa relação pois agrada-me a ideia que terceiros possam descarregar os seus próprios sentimentos e/ou inscrever mentalmente as suas próprias palavras no interior de cada uma delas.
Thaleia
A busca do título - para melhor salientar ou descrever os pontos de tangência existentes entre o mundo térreo e o submarino – partiu mais uma vez de um jogo de associações menos anárquico que o que possa parecer. Porque os acasos não acontecem e segundo Wikipédia – filha de Internet e mãe de todos nós – na mitologia grega o nome Thaleia possui duas vertentes idealmente (neste caso) associadas.
. Thaleia - setíma musa (da comédia) – a alegre, a festiva, a que faz florescer. . Thaleia - nonagésima primeira nereide – filha de Nereu (o velho deus do mar).
Trata-se, em suma, do resumo destes dois pólos que se afirmam enquanto apropriação ou reinterpretação das pequenas maravilhas presentes no mundo das forma orgânicas no geral.
Thaleia - musa e nereide em simultâneo - reúne e associa a capacidade de inspirar a criação artística e o poder de dominar o coração dos homens.